Reparto, hoje, com quem lê este espaço, uma história escrita por Ângela Moraes, retirada da revista "Espiritismo - Filosofia, Ciência e Religião", de 2009. Ei-la: "No auge dos seus 35 anos, Benedito, um homem de temperamento forte, dizeres rudes, mas braços trabalhadores, sofreu um derrame deixando imóvel todo o lado direito do corpo. Completamente à mercê do apoio da esposa e da única filha até para a higiene pessoal, passou a utilizar palavras ásperas com todos como se tivessem culpa pela impossibilidade que sentia de viver. Mais do que isso, decidiu que o lugar para aquele destino lhe dado por um Deus cruel era o quarto tendo por companheiros uma televisão e dois maços de cigarros diários. Os ganhos que a esposa passou a obter com a costura eram motivos de desprezo.
A filha, em vista disso, passou a odiar o pai estreitando a hostilidade entre ambos a ponto de desejarem-se a morte recíproca. Alguns anos depois, a esposa regressou à pátria espiritual com a missão cumprida. Na casa paterna agora apenas pai e filha. Com o passar dos anos, no entanto, a desgraça da vida de ambos transformara-os em companhia fiel e os insultos de parte a parte já partiam, agora, apenas da boca para fora e não mais do coração, pois que a moça conseguira entender, juntamente com as rugas que lhe emolduravam a face, a grande infelicidade daquele pobre homem. Absorvida entre o trabalho remunerado e o paterno, não tivera tempo para enamorar-se e casar-se. Percebia sua solidão aos sábados à noite quando as moças da idade dela deleitavam-se em festas e namoricos.
Sentiu compaixão da sua vida arruinada e pensou que Deus não tivera sido justo com nenhum deles. Um dia, de volta à pátria espiritual, Benedito viria a saber o quanto a vida ofertou a essa família no educandário chamado Terra. Entendeu, finalmente, o quanto a vida fizera em favor da dissolução de suas mágoas. Soube que sua esposa resgatara pelo trabalho com amor, pesado débito pretérito e que agora pode sentir a felicidade dos que cumpriram satisfatoriamente a tarefa proposta antes de reencarnar. Do ódio que sentia por sua filha, ferrenha adversária de outras vidas, restara apenas a lembrança de que ela esteve até o dia de sua morte ao seu lado, amparando-o por 60 anos desde que ele adoeceu. A mesma filha que agora desenvolvera dentro de si coragem, força moral, compaixão, humildade e desejo sincero de ajudar, deixando para trás as frivolidades que antes lhe pautavam a vida.
Benedito olhou para si mesmo e para os males que houvera feito em vidas anteriores ajudando a prejudicar vidas e concluíra que as limitações impostas pela doença que o colocou no leito, ainda muito cedo, haviam sido a melhor maneira de impedi-lo de errar novamente. Deus não fora apenas justo com ele, sentiu que Deus o amava, sim, ele que justamente não soubera amar. Ensinara-o o valor da própria vida e do amor, essa lei irrevogável que rege todo o universo. Voltaria este mundo de expiações e provas, sim, mas agora em condições de retribuir a alguém o bem que a filha e a esposa lhe haviam proporcionado, buscando desenvolver em si próprio os acordes mais nobres do ser: a caridade, a compaixão, a humildade, o amor ao próximo como nunca houvera antes praticado, bem como eliminar dependências viciosas em que se comprometera nesta última experiência na carne. E foi assim que, anos depois,
Benedito voltou ao seio da carne para, na vida adulta, receber nos braços um outro adversário do passado, sendo que, desta vez, o filhinho era quem exigiria cuidados especiais. Seria ele, pois, que ensinaria agora o valor da dedicação e do trabalho com amor para o seu filho, conforme ensinou o mestre Jesus." Essa era a história que eu queria repartir com vocês. É uma história singela? Sim! Mas ela, na sua simplicidade, nos mostra que Deus tem infinitas formas de ensinar e educar, mas que todas deságuam na mesma pedagogia: a pedagogia do amor.